SERGIO MESQUITA

História oral e reforma agrária: a experiência social de trabalhadores rurais sem-terra em Sumaré, interior de São Paulo (décadas de 1980 e 1990)

A história da luta pela reforma agrária em Sumaré, interior do estado de São Paulo, privilegiou a metodologia da história oral, com cotejamento de outros documentos, para desvendar o processo histórico de luta pela reforma agrária dos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra oriundos de diversos estados brasileiros para a região de Campinas. A formação da identidade sem-terra durante as décadas de 1980 e 1990 constituiu no objeto da investigação histórica. E a publicação da pesquisa nos dias de hoje assume sentido não meramente acadêmico, mas também político. Aprender com a experiência social de pessoas simples, que lutaram para tornar a utopia da terra repartida uma realidade, nos motiva para enfrentar hodiernamente as necessárias lutas do presente.

O Ressurgimento do Movimento Sindical em Goiás na Década de 1980

Neste País aparentemente condenado a se mover em círculos, o trabalho do pesquisador sobre a trajetória que cumprimos em anos recentes pode contribuir de forma relevante com os movimentos sociais contemporâneos, sobretudo com os de baixo, dos trabalhadores, para evitar que se repitam erros nessa luta contínua pela democratização da sociedade e do Estado brasileiro. Não creio que seja necessário tomar o tempo do leitor com considerações sobre a neutralidade da abordagem e do enfoque escolhido pelo pesquisador para a construção de sua narrativa sobre “O ressurgimento do movimento sindical em Goiás”. A construção do relato fala por si. Trata-se de um exame da dinâmica dos movimentos empenhados em recuperar o protagonismo político dos trabalhadores, por meio da reconstrução de sindicatos e associações, com o objetivo de potencializá-los na constituição de uma central sindical (ou mais de uma…), como verá o leitor.

Memória coletiva, memória individual e História Cultural

O tema central desta coletânea (“Memória Coletiva, Memória Individual e História Cultural”), de fato, permite e estimula muitas possibilidades de trabalho. Como organizadores, nossa proposta inicial era exatamente oferecer um espaço de interlocução de modo que pesquisadores diversos, e em momentos diferentes de suas formações, pudessem apresentar suas ideias publicamente e de maneira produtiva, colocando-as à disposição para serem debatidas. Acreditamos, salvo melhor juízo do leitor, que nosso objetivo foi alcançado. Com efeito, frutos do esforço de pesquisadores experientes como André Luis Bertelli Duarte, Francisco de Assis de Sousa Nascimento, Heloisa Selma Fernandes Capel, Irene Vaquinhas, Julierme Morais, Nádia Maria Weber Santos, Paulo Roberto Monteiro de Araujo, Regina Weber, Rodrigo de Freitas Costa, Thaís Leão Vieira e, por último, mas não menos importante, Alcides Freire Ramos e Rosangela Patriota, as reflexões aqui publicadas oferecem a oportunidade para refletir acerca das diferentes maneiras de produzir conhecimento em história em sua interface com os debates teórico-metodológicos atinentes aos diálogos com as memórias. Com efeito, nas últimas décadas, os horizontes investigativos e de pesquisa do Historiador Cultural ampliaram-se, sobretudo graças aos estímulos proporcionados por temas e objetos privilegiados pelos historiadores que se voltam para esse campo. O propósito desta coletânea, que agora chega às suas mãos, é o de enfrentar tanto desafios teóricos e interpretativos, quanto analisar procedimentos e práticas atinentes ao ofício do historiador que se volta para a História Cultural. Por fim, antes de colocar o ponto do final nesta breve Apresentação, cabe-nos desejar a você, caro leitor, uma boa viagem, tendo como bússola as ideias contidas nas páginas que seguem…

História Cultural: Memória e Sociedade

“História Cultural: Memória e Sociedade” esse é o eixo que articula, em termos temáticos, a presente coletânea, que é fruto de uma iniciativa do GT Nacional de História Cultural, grupo que tem se mantido ativo e atuante desde a sua fundação, ocorrida em julho de 2001.
Se em publicações anteriores, promovidas pelo GT, temas como Sensibilidades, Sociabilidades, Imagens, Linguagens, Representações, Paisagens e/ou as Escritas da História foram os eixos norteadores, nesta nova iniciativa, por decisão do Comitê Científico do GT, a presente coletânea se propõe a esquadrinhar, de maneira aprofundada, uma temática de grande interesse para os historiadores, a saber: as interfaces existentes entre História Cultural, as memórias individual e coletiva. Com efeito, trata-se de um assunto que continua mobilizando o conjunto dos historiadores, mas o interesse, aqui, não era o de discussões demasiadamente amplas, descoladas de objetos específicos. Pelo contrário. A escolha dessa perspectiva de investigação nasceu, em primeiro lugar, da vontade dos integrantes do GT em estudar algo específico: o impacto das diversas dimensões da memória sobre a História Cultural. Assim, depois de delineados os contornos gerais da proposta, pensou-se no aprofundamento dos diálogos teóricos e metodológicos que dão sustentação às nossas pesquisas. Esse aprofundamento das reflexões em torno das possibilidades de diálogo entre as memórias individual e coletiva com a História Cultural teve como resultado, pouco a pouco, um profícuo entrecruzamento com temas e/ou objetos de pesquisa mais especificos: teatro, cinema, fotografia, literatura, entre outros. Portanto, nas páginas que seguem, o leitor encontrará estudos de autores diversos, alicerçados em pesquisas sólidas e inspirados por essa perspectiva mais ampla, ou seja, a de descortinar as múltiplas articulações possíveis entre a História Cultural e as memórias individual e coletiva. Enfim, essa brevíssima apresentação é, acima de tudo, um convite para que você, leitor, mergulhe com curiosidade em nossas discussões.

A tragédia grega transformada em Gota D’água: usos do teatro clássico no Brasil da década de 1970

“Assassinou os dois filhos e se matou”. Assim começa o programa da peça teatral Gota D’água. A tragédia de um subúrbio carioca camuflada de vingança de mulher traída é escancarada na obra de Chico Buarque e Paulo Pontes, com direção de Gianni Ratto nos anos de 1970 no país. A proposta deste livro é escrutinar, pelo fascínio por trás da imagem da feiticeira Medeia da tragédia grega de Eurípides criada em 431 a. C., o pano de fundo da ditadura civil-militar brasileira e os problemas dela decorrentes, debatendo a maneira como foi ressignificada, primeiramente pelas mãos de Oduvaldo Vianna Filho em uma teledramaturgia de 1972 – homônima à obra grega –, e, posteriormente, pelo musical de Buarque e Pontes, a partir de 1975. Mitologia, versos, canções e fotografias de espetáculo preenchem este livro, que pretende surpreender o leitor não apenas pela triste poesia inerente às obras de arte analisadas, mas também suscitar reflexões históricas de caráter cultural, sociopolítico e econômico. Busca revelar os sentidos da tragédia em tempos diferentes e a ideia da luta pela resistência democrática no Brasil.

Ações investigativas em performances culturais

Os estudos das performances culturais abarcam um campo interdisciplinar com desenvolvimento de pesquisas que contam com uma variedade de temas e metodologias flexíveis, interdisciplinares e transdisciplinares, as quais, em sua maioria, se constituem a partir da imersão dos pesquisadores em experiências do cotidiano. Isso significa afirmar que os processos de composições das investigações são impulsionados pela prática empírica e fora da rigidez de metodologias ortodoxas “próprias” e modelos dicotômicos de áreas que procuram “zelarem” por suas especificidades. Por certo que a primeira opção remete-nos a um processo incerto e tenso, pois não há caminhos pré-definidos.As pesquisas do Programa de Pós-graduação em Performances Culturais, sob o guarda-chuva da pesquisa qualitativa das ciências sociais, abordam temáticas diversas e fenômenos relativos às culturas, às práticas humanas, aos comportamentos expressos na interação social, aos símbolos e à construção de seus significados. O que requer observação atenta, percepção e sensibilidade dos pesquisadores ao abordarem as culturas e seus dramas sociais. Sob essa perspectiva de análises, este livro agrega cinco estudantes do doutorado em Performances Culturais para expor um pouco a respeito de suas pesquisas. Ele foi dividido em dois desdobramentos de ações performáticas: o primeiro intitulado História e Cultura, e o segundo Sons em performance. Essas são apenas algumas pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Performances Culturais-UFG. Esperamos que possam dar ao leitor uma amostra do que fazemos, bem como servirem de incentivo a se juntarem a nós.

A Sétima Arte por historiadores: Crítica, cineastas, filmes e espaço

A coletânea organizada por Julierme Morais, a partir do campo da História Cultural, congrega ensaios acadêmicos de diversos pesquisadores dedicados à temática, incidindo foco no papel de críticos cinematográficos brasileiros e a construção de significados históricos e estéticos de nossa Sétima Arte; problematiza alguns cineastas e filmes nacionais do século XX à luz de questões políticas, estéticas, filosóficas, de raça e gênero cinematográfico; aborda o cinema estrangeiro e suas relações com acontecimentos históricos de vulto, tais como a Revolução Cultural Chinesa e os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA; e indaga os significados de filmes cuja representação sensível da cidade e do campo são o fio condutor.

Chico Xavier: De jovem desconhecido a médium mais famoso do Brasil (1931-1938)

Esse trabalho recebeu o primeiro lugar no prêmio Sandra Jatahy Pesavento do GT de História Cultural da ANPUH. Desde a introdução o autor deixa claro que não pretende discutir o Espiritismo do ponto de vista teológico. É na história do livro e da leitura que inscreve sua investigação. Se para os leitores a autoria é do espírito, a sua problemática é de ordem historiográfica ao pensar a psicografia como uma realidade cultural na qual há a “invenção” dos espíritos autores e a criação de uma imagem autoral que fundam um determinado pacto de leitura. André Seal se debruça sobre os primeiros anos da vida literária de Chico Xavier (1931-1938). Em um primeiro recorte que vai de 1931 até 1934 se debruça sobre os escritos inicias do médium. É quando se estabelece no mercado editorial espírita, mas longe do sucesso de massa que viria a conhecer. O período posterior é dedicado ao estudo da criação dos espíritos autores. Em cada um desses momentos, Chico Xavier é situado dentro das matrizes literárias do Espiritismo no Brasil. Ao mesmo tempo, deixa-se entrever como estas foram apropriadas e mesmo alteradas neste percurso de construção de sua imagem autoral. Ao situar o autor na questão mais ampla da literatura espírita deixa claro que existiram outros projetos literários no país, engendrados coletivamente, e que estes caíram no esquecimento. A psicografia e os espíritos autores definem até os dias de hoje o perfil da escrita espírita. Ao dessacralizar o mito, André Seal faz mais do que um belo, cuidadoso, denso e delicado trabalho de investigação que coloca os estudos sobre a história do livro e da leitura bem como do espiritismo em novas chaves de leitura; ele devolve Chico Xavier ao plano histórico, ao mundo dos homens.

Projeções Críticas da Modernidade: modernismos e modernidades a partir da experiência goiana

O livro Projeções Críticas da Modernidade: modernismos e modernidades a partir da experiência goiana resulta diretamente de reflexões promovidas pelo GEHIM (Grupo de Estudos de História e Imagem), Grupo cadastrado no CNPq que congrega, em suas atividades, pesquisadores de diversas Instituições de Ensino Superior. Mais do que compor-se por um mero conjunto de artigos, o livro propõe um voo panorâmico e articulado sobre o problema. Primeiramente, reconhece no próprio título que a experiência moderna é múltipla. Não há apenas um modernismo, mas modernismos; as modernidades devem ser apresentadas e apreendias no plural. Ao ignorar tal princípio, os movimentos modernistas no centro brasileiro foram considerados como demasiado tardios, conservadores, estagnados no tempo, bloqueando com entulhos de recalque o natural caminho para as ações estéticas vanguardistas contemporâneas. Essa perspectiva é válida ou é um descalabro preconceituoso? Não há respostas pretensamente definitivas que não revelem partidarismo. Porém, é possível esboçar caminhos que apresentem possibilidades e aproximações acerca do tema. Mais do que dar diagnósticos definitivos, fazer projeções.

Circularidades políticas e culturais: formas – circuitos – recepção

Circularidades Políticas e Culturais têm sido o eixo temático que congregou um grupo de pesquisa estruturado internacionalmente. Criado no ano de 2010, ele promove reuniões alternadas entre Brasil e Itália com o intuito de ampliar e renovar sua interlocução, tendo sempre como horizonte o campo da circularidades. Após a publicação de Circularidades políticas e culturais: percursos investigativos (Hucitec, 2012), Circularidades políticas e culturais: fronteiras – linguagens – cidadania (Edições Verona, 2015), Politica in Scena – teatro e cinema tra Europa e America Latina (Euno Edizioni, 2017), este grupo traz a público este volume intitulado Circularidades políticas e culturais: formas – circuitos – recepção (Edições Verona, 2017), com o intuito de pensar o trabalho do historiador para além das dimensões críticas dos documentos analisados. Dito de outra maneira: a partir da confecção dos documentos é possível apreender seus circuitos e níveis de recepção? Tais indagações são de extrema importância quando se explicita que a produção desse material não é meramente aleatória. Pelo contrário, ela guarda sentidos e intenções, assim como, em princípio, visa a um público ideal. De posse dessas premissas, a motivação que congregou os colaboradores desse volume foi a de perceber como práticas socioculturais instituem relações simbólicas.