A tragédia grega transformada em Gota D’água: usos do teatro clássico no Brasil da década de 1970

“Assassinou os dois filhos e se matou”. Assim começa o programa da peça teatral Gota D’água. A tragédia de um subúrbio carioca camuflada de vingança de mulher traída é escancarada na obra de Chico Buarque e Paulo Pontes, com direção de Gianni Ratto nos anos de 1970 no país. A proposta deste livro é escrutinar, pelo fascínio por trás da imagem da feiticeira Medeia da tragédia grega de Eurípides criada em 431 a. C., o pano de fundo da ditadura civil-militar brasileira e os problemas dela decorrentes, debatendo a maneira como foi ressignificada, primeiramente pelas mãos de Oduvaldo Vianna Filho em uma teledramaturgia de 1972 – homônima à obra grega –, e, posteriormente, pelo musical de Buarque e Pontes, a partir de 1975. Mitologia, versos, canções e fotografias de espetáculo preenchem este livro, que pretende surpreender o leitor não apenas pela triste poesia inerente às obras de arte analisadas, mas também suscitar reflexões históricas de caráter cultural, sociopolítico e econômico. Busca revelar os sentidos da tragédia em tempos diferentes e a ideia da luta pela resistência democrática no Brasil.