Thaís Leão Vieira

Humor, língua e linguagem: representações culturais

Escrito por autores oriundos de diferentes áreas das Humanidades e das Ciências Sociais, como a Linguística, a Literatura, a História, a Sociologia, o Direito, a Pedagogia ou as Artes de Palco, este volume oferece, ao longo dos seus trinta ensaios, uma abordagem multidisciplinar da força dissolvente do riso e das distintas manifestações do humor na vida cotidiana, na justiça, na escola, na literatura, no teatro, no cinema, na mídia ou na internet – isto é, no espaço público, com destaque para a sua dimensão política. Como se pode confirmar no livro, são vários os caminhos escolhidos para encontrar o lugar do humor e questionar o seu papel que, apesar de reconhecidamente ambíguo e mesmo, por vezes, paradoxal, não pode deixar de ser senão libertador. Essa dimensão redentora do humor exige a cumplicidade da crítica e a capacidade de abertura ao novo, ao diferente e ao plural, para ajudar a formar novas visões do mundo e da sociedade. Sem esquecer um imenso pormenor: rir faz bem à saúde.

Os sentidos do humor: possibilidades de análise do cômico

O estudo do humor não é novo. Filósofos como Platão, Aristóteles, Kant, Hegel, Freud e Ortega y Gasset, escritores de renome como Baudelaire, Shakespeare ou Cervantes e acadêmicos como Bergson, Adorno ou Attardo, têm abordado o humor em suas obras. A centralidade e peso do humor na vida dos seres humanos é evidente no grande número de estudos que examinam diferenças e semelhanças de humor em inúmeros cenários como entre Oriente e Ocidente, em psicologia, na cognição, relações humanas, saúde, literatura, artes visuais ou mesmo política. Este volume é o trabalho de especialistas dedicados aos estudos do humor e tratou temas como o humor no mundo luso-hispânico por meio de representações sociais, linguagem e literatura.

Diálogos e relações de poder

Tendo como tema central diálogos e as relações de poder, este livro discute, por meio do encontro entre diferentes áreas de saberes e disciplinas, os modos como as relações de poder permeiam e se entrecruzam em diferentes espaços na sociedade contemporânea, seja na escola, na mídia ou por meio de processos formativos que emergem em ações governamentais ou mesmo na escolha das fontes legítimas para o trabalho do historiador. A obra ainda aborda conceitos, formas narrativas e relações sociais em diversos períodos históricos: partindo da contemporaneidade, problematizando suas questões constitutivas, e analisando o campo das sensibilidades e subjetividades.”

Allegro ma non troppo: ambiguidades do riso na dramaturgia de Oduvaldo Vianna Filho

O objetivo deste trabalho é abordar o humor enquanto elemento central na obra de Oduvaldo Vianna Filho – Vianinha, por meio da análise das comédias escritas no período anterior ao golpe de 1964 (Bilbao, Via Copacabana -1957, A Mais Valia vai Acabar Seu Edgar –1960, Cia.Amafeu de Brusso – 1961) e no pós-1964 (Dura Lex Sed Lex no Cabelo só Gumex –1967, AllegroDesbundaccio ou se Martins Pena Fosse Vivo -1973). Nesse sentido, o argumento principal é que o estudo de suas obras cômicas nos ajuda a perceber que sob o peso do fracasso e da perplexidade diante do golpe, Vianinha transforma-se num crítico de si mesmo e as personagens alegóricas do pós-golpe expressam o sentimento do contrário, noutras palavras, a percepção de um particular que é o oposto do que se deveria ser. Seus usos do humorismo no pós-golpe desvelaram comportamentos e situações absurdas, muitas vezes derivadas do trágico, de modo a expressar no estilo narrativo um olhar para si mesmo e para o grupo social em que se via inserido no âmbito da sociedade de consumo.

Vianinha no centro popular de cultura (CPC da UNE): Nacionalismo e Militância em Brasil – Versão Brasileira (1962)

Nas décadas de 1950 e 1960, viveu-se no Brasil um momento de intensificação da arte engajada, marcado por um contexto no qual muitos artistas, no ímpeto de transformação da sociedade, incorporaram em suas obras, suas pretensões políticas. Essa concepção fez parte de um período onde as ideias de uma “cultura revolucionária” promoveram um discurso de que um país como o Brasil era capaz de produzir obras com caráter “nacional” e “popular”, a fim de superar seu subdesenvolvimento. Tais manifestações contribuíram para a estruturação de um meio de produção cultural definido pelo engajamento artístico. Este livro discute as críticas e autocríticas produzidas a uma dessas experiências, a do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE), a partir do golpe militar de 1964. No intuito de repensar a avaliação crítica feita ao CPC, analisamos esta produção à luz de seu próprio tempo, compreendendo, assim, a historicidade da ficção. Para tanto, verticalizamos em uma peça teatral, Brasil – Versão Brasileira (1962), de Oduvaldo Vianna Filho, observando as diversas referências cênicas que possibilitaram a este dramaturgo dar forma a temas como o imperialismo, a aliança do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a burguesia nacional, as contradições dentro do movimento operário e o tema da vanguarda revolucionária. Ao lado das discussões estéticas, foi possível pensar a difusão de ideias comuns entre artistas cepecistas, intelectuais do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e militantes do PCB. Nesse aspecto, a conjuntura social, política e cultural em que Brasil – Versão Brasileira foi escrita permitiu pensar aspectos das transformações cênicas e políticas nas décadas de 1950 e 1960 no Brasil, a partir de um projeto singular que marcou a trajetória de Vianinha. Assim, a opção formal desta peça e as questões temáticas destacadas no texto estão relacionadas às opções estéticas e políticas que este dramaturgo realizou em um dado momento histórico, a primeira metade da década de 1960.